sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Texto argumentativo para 3B

Galera do 3B: nest post vão dois textos sobre o ENEM, ujm contra e outro a favor. Leiam os textos, tirem suas concluões e escrevam uma opinião. O debate será em sala.

Um abraço do Prof


Rudá Ricci: Enem sofre ofensiva de interesses ligados à indústria do vestibular

Na avaliação do sociólogo e consultor na área de educação, Rudá Ricci, há uma disputa de política educacional em curso, e é necessário preservar uma avaliação de caráter nacional. “Uma prova nacional permite que o país trace objetivos de política educacional”, defende. Entre os setores interessados economicamente, segundo ele, estão as próprias universidades, que arrecadam em matrículas, os professores que produzem questões fechadas e abertas, e os cursos preparatórios para o vestibular.

por Anselmo Massad, na Rede Brasil Atual, via Carta Maior

São Paulo – O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) sofre uma ofensiva de interesses, segundo o sociólogo e consultor na área de educação Rudá Ricci. Ele enumera grupos e setores do que chama de “indústria do vestibular”, de cursos preparatórios a docentes encarregados de formular as provas. Para ele, há uma disputa de política educacional em curso, e é necessário preservar uma avaliação de caráter nacional.

“Uma prova nacional permite que o país trace objetivos de política educacional”, esclarece. Um vestibular nacional do ponto de vista da aplicação e do conteúdo promove um impacto no ensino médio, de modo a reverter problemas dessa faixa da educação.

Para ele, os vestibulares descentralizados, feitos por cada universidade, provocam danos à educação, já que o ensino médio e mesmo o fundamental direcionam-se às provas, e não à formação em sentido mais amplo. “O ensino médio é o maior problema da educação no Brasil, é o primeiro da lista, com mais evasão, em uma profunda falência”, sustenta.

“O Enem faz questões interdiciplinares, é absolutamente técnico, é super sofisticado”, elogia. Os méritos estariam em privilegiar o raciocínio à memorização de conteúdos. Isso permitiria que o ensino aplicado nas escolas fosse além do preparo para enfrentar provas de uma ou outra universidade.

O Enem traz uma “profunda revolução”, na visão de Rudá, “ao combater profundamente a concepção pedagógica e política de vestibulares por universidade”. Ao se aproximar dessa concepção nacional – fato que aconteceu apenas nos últimos anos –, interesses de grupos educacionais foram colocados em xeque, o que desperta ações contrárias.

Entre os setores interessados economicamente, segundo ele, estão as próprias universidades, que arrecadam em matrículas, os professores que produzem questões fechadas e abertas, e os cursos preparatórios para o vetibular.

Controle social
Ricci critica a postura do ex-ministro da Educação, Paulo Renato, e da ex-secretária de Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro. O sociólogo taxa os comentários feitos pelos especialistas ligados ao PSDB como “oportunismo”. Isso porque, segundo ele, o uso da prova como seleção e seu caráter nacional, hoje criticados pelos tucanos, foram objetivos perseguidos durante a gestão de Renato na pasta, de 1995 a 2002.

O que ele considera como mudança de postura é resultado da disputa política, que faz com que os estudantes passem a rejeitar o exame. “Os jovens não querem mais essa bagunça. E têm razão”, pontua.

“Existe uma movimentação para politizar esse tema; vamos ter o avanço de uma oposição organizada, que junta as forças políticas que perderam a eleição nacional com escolas particulares, cursinhos que têm muito interesse na manutenção do sistema de vestibular”, avalia.

O sociólogo defende o modelo de exame nacional, mas acredita que a fórmula possa ser aprimorada, seja com mais dias de provas, seja com provas aplicadas a cada ano do ensino médio. Ele aponta ainda que houve um desvirtuamento da proposta interdisciplinar e sofisticada, empregada originalmente, em função da necessidade de expandir a prova. Em 2010, foram 4,6 milhões de inscritos.

Ele acredita que a postura de críticas deve-se às diferenças partidárias. “Estão politizando o Enem, politizando o ingresso na universidade e o conteúdo da prova”, lamenta. “Seria interessante ter um órgão que execute o exame sob controle social, não de governo, nem de empresas”, sugere.

“A solução é nós discurtirmos nacionalmente esse gerenciamento em um modelo como o americano para o vestibular nacional”, defende. O SAT, usado como método de seleção nos Estados Unidos, é aplicado por agentes privados de modo controlado pelo departamento de educação federal. Além de poder ser aplicado em dias diferentes, cartas de recomendação de professores e outros instrumentos também são considerados na seleção por parte de universidades.

De solução a problema

Por: Rebeca Oliveira

O Brasil é um país surreal. Justamente quando o governo federal lança o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para revolucionar a educação no país, a iniciativa deixou de ser uma solução para se tornar mais um problema ou até mesmo um desastre, como sintetizaram o Ministério Público Federal em São Paulo e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O presidente da OAB, Ophir Cavalcante, considerou “desastrosa e lamentável” a aplicação do Enem neste ano, depois que foram constatados problemas como cabeçalhos de prova discordantes dos títulos das folhas de respostas. Como se isso não bastasse, estão sendo investigadas denúncias de vazamento de questões pelo Twitter, um microblog que permite postagens em até 140 caracteres.

Todos os erros amadores cometidos pela gráfica RR Donnelley, responsável pela impressão do exame, e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), um órgão do Ministério da Educação (MEC), levaram a juíza Karla de Almeida Miranda Maia, da 7ª Vara Federal do Ceará, a suspender temporariamente o Enem em caráter liminar. A partir de uma ação do procurador Oscar Costa Filho, do Ministério Público do Ceará. A decisão, cujo efeito tem validade para todo o país, foi tomada depois do pedido feito pelo procurador Oscar Costa Filho, do Ministério Público Federal no Ceará, por meio de uma ação civil. O Enem – que representa um custo enorme aos cofres públicos (R$ 182 milhões) – corre o risco de perder credibilidade com mais este escândalo. Temendo tal possibilidade, o ministro da Educação, Fernando Haddad, resolveu admitir o erro cometido pelo Inep, embora o MEC já tenha pedido a reconsideração da decisão magistral, já ameaçando entrar com recurso caso a Justiça Federal não reconsidere o caso. O descompasso prosseguiu com as declarações do presidente Lula, que afirmou que o exame tinha sido, “até hoje, extraordinariamente bem-sucedido”.

Contraditoriamente, na quarta-feira, durante visita à África, Lula afirmou que, durante conversa com Had-dad, seriam dadas duas garantias à sociedade brasileira: a primeira, de que os erros já estariam sendo apurados pela Polícia Federal; e a segunda, de que se for necessário “fazer uma prova, duas provas, nós faremos”. Mas uma nota divulgada horas depois pelo próprio MEC reiterou a informação de que o Ministério não tem a intenção de realizar um novo exame, a não ser para os alunos prejudicados, que, segundo a nota, representam um número “muito pequeno”. Ainda na quarta-feira, o procurador Oscar Costa Filho pediu a anulação das duas provas, sobretudo após a divulgação de um possível vazamento do tema da redação em Petrolina (PE). Enquanto o impasse não se resolve, 48 mil vagas em universidades federais que dependem do Enem estão congeladas.

Antes deste mais recente problema, a procura pelo Enem havia aumentado consideravelmente, em especial depois que diversas universidades federais anunciaram que iriam utilizar o Sistema de Seleção Unificado (Sisu) – aplicado pela primeira vez no ano passado – como forma de seleção, uma alternativa ao vestibular tradicional. Porém, antes mesmo da realização das provas, o cadastramento para o Sisu já apresentava erros. Inúmeros alunos registraram tentativas fracassadas de fornecer seus dados ao sistema. Em 2010, no primeiro dia de inscrições, o portal já apresentava problemas. Desde então, diversos estudantes de todo o país responsabilizam o portal de ter comprometido suas vagas, que foram perdidas devido a constantes mudanças nas listas de espera.

Realizado no último fim de semana, o Enem foi marcado por dois principais erros: a inversão no cabeçalho dos cartões de resposta e, nas provas de cor amarela, questões duplicadas e inexistentes. O MEC calculou que 20 mil provas desta cor – aplicadas em sete estados, incluindo no Distrito Federal (DF) – tiveram algum tipo de problema no tocante à impressão. Deste total, 18 mil foram substituídas no decorrer da aplicação do exame; porém, outras duas mil, que não puderam ser trocadas, causaram estragos aos concorrentes que se submeteram à seleção. Para estes alunos, o MEC disponibilizou a alternativa de realizar a prova novamente nos dias seis e sete de dezembro, simultaneamente à aplicação do exame em presídios. A solução encontrada já foi adotada em provas anteriores, como a realizada no ano passado, no Espírito Santo, onde foi cancelada devido a fortes chuvas ocorridas na região.

Todavia, após tamanhas dificuldades e denúncias, o exame, que deveria facilitar a entrada de alunos no nível superior, tem sido considerado uma “via crucis”, principalmente para quem vê a iniciativa como a única forma de ingresso em uma faculdade, já que o exame também é utilizado no sistema de bolsas do Programa Universidade para Todos (Prouni). Com o registro de falhas no primeiro dia de aplicação das provas, ainda no sábado, o número de abstenções no segundo dia do exame chegou a 29%. No DF foram registradas as maiores desistências: 34% dos estudantes. No momento do manuseio, da impressão e da diagramação das provas, o erro não foi detectado. Por tal razão, a culpa pelo ocorrido vem sendo atribuída à gráfica, que recebeu a verba de R$ 68 milhões para realizar a impressão do exame. Já ao Inep cabia a incumbência de checar o material impresso, o que, obviamente, não foi feito.

Outro erro injustificável foi o possível uso do Twitter por alguns estudantes durante a realização do exame. Alunos postaram mensagens como se estivessem em um chat, enquanto respondiam as questões, trocavam informações e tiravam dúvidas por meio do microblog. Alguns chegaram, inclusive, a tirar fotos da prova. O MEC, já na tarde de domingo, se pronunciou por intermédio da mesma ferramenta, travando uma “queda de braço” com os estudantes.

Intimidando os alunos, o MEC afirmou que o Inep poderá processar todos os envolvidos. Joaquim José Soares Neto, presidente do instituto, saiu em defesa do sistema de segurança durante a aplicação das provas. Sobre o ingresso de alunos portando equipamentos eletrônicos, ele afirmou: “O Inep não tem poder de polícia. Ao termos conhecimento de alguma evidência de que estariam usando aparelhos, encaminhamos [o caso] à Polícia Fe-deral”.

Até mesmo um jornalista integrante do Sistema Jornal do Commercio de Comunica-ção (SJCC) sofrerá punição. O profissional enviou uma mensagem à redação na qual informava o tema da redação. Sobre o ocorrido, o MEC considerou o “ato ilícito, ao atentar contra as regras do certame”. Pouco mais de um ano após o roubo das provas dentro da gráfica responsável por sua impressão, outra falha, desta vez de finalização, coloca em cheque a excelência das empresas responsáveis e a do critério seletivo.

No dia 1º de outubro de 2009, surgiram denúncias de que cópias de duas provas foram furtadas da gráfica Plural, fato que motivou o cancelamento do exame, pronunciado pelo ministro Fernando Haddad. A acusação foi feita pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, a partir do momento em que a redação do diário teria sido procurada por um homem que afirmou ter, em mãos, as duas provas e pedia a quantia de R$ 500 mil. Três funcionários da empresa, Felipe Pradella, Felipe Ribeiro e Marcelo Sena, foram indiciados por quebra de sigilo funcional e peculato. A Polícia Federal, responsável pela investigação, indiciou também outras duas pessoas que estariam envolvidas nas negociações: o empresário Luciano Rodrigues e o DJ Gregory Camillo de Oliveira Craid. Como o caso corre em segredo na Justiça Federal, ainda não se sabe até que ponto foi solucionado. Porém, das pessoas apontadas como responsáveis pelo furto, nenhuma foi julgada ou presa.

Paulo Renato Souza, ex-ministro da Educação entre 1995 e 2002, em entrevista ao portal UOL Educação, atribuiu a falta de experiência do consórcio às falhas na segurança que ocasionaram o vazamento. Em seguida, ele alertou: “A prova passou a ter um valor econômico e social muito importante, aumentando a tentação da fraude”.

Após o anúncio do furto das provas, houve a remarcação do exame para dezembro do mesmo ano. Um gabarito publicado erroneamente fez que o Inep fosse obrigado a publicar novo gabarito. Com a sequência de erros, cerca de 200 mil estudantes tiveram seu processo seletivo atrasado, direta ou indiretamente.

O prejuízo deste ano ainda não foi calculado, mas os alunos, as maiores vítimas do mais recente escândalo, terão, de acordo com o presidente do Inep, seus problemas solucionados, um a um.